Parousia - Jesus já retornou?

 

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Jesus retornou em 1.914? Uma análise complementar

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De todos os ensinos característicos às Testemunhas de Jeová, certamente um dos mais controversiais é o de que já haveria ocorrido a volta de Jesus como rei, e que ele estaria reinando no céu desde o ano 1.914. Para que possam chegar a tal data, as Testemunhas de Jeová baseiam seu argumento em uma interpretação arbitrária do capítulo 4 do livro bíblico de Daniel; e para que possam utilizar seus métodos peculiares e chegar a 1.914, as Testemunhas vão contra todas as evidências históricas e sem qualquer apoio arqueológico datam a destruição de Jerusalém para 607 AC.

Esta datação é quebrada em mil pedaços facilmente, e mesmo na internet podemos ler matérias sérias, que provam conclusivamente que 607 AC não pode ter sido a data da destruição de Jerusalém, argumento este apoiado pelas evidências históricas tanto quanto pelas evidências bíblicas. Eis a seguir a lista de alguns artigos interessantes que demonstram a falta de lógica, falta de provas e a inconsistência da data 607 AC como sendo a data da destruição de Jerusalém:

http://www.geocities.com/Athens/Agora/4618/cronologia.htm

http://geocities.com/observa3/gentios1.htm

http://geocities.com/observa3/gentios2.htm

http://geocities.com/observa3/gentios7.htm

http://www.geocities.com/osentinela/historia.htm

De fato, facilmente fica demonstrada a falibilidade da datação da destruição de Jerusalém para 607 AC. Talvez exatamente em virtude da fraqueza do número "607 AEC" utilizado pela Torre de Vigia, poucos têm ido além de provar que esta data é falsa, bastando este argumento para invalidar as interpretações típicas das Testemunhas no assunto. No entanto, realmente existe algo mais a ser considerado. Além da farsa montada em torno de 607 AC, todas as evidências bíblicas impossibilitam que se aplique o capítulo 4 de Daniel da forma como as Testemunhas de Jeová o fazem. É exatamente este o objetivo deste artigo: analisar e mostrar porque biblicamente as interpretações de Daniel 4 – como feitas pelas Testemunhas de Jeová – não passam de delírios carentes de apoio lógico.

 

Teria o sonho da grande árvore em Daniel 4 uma aplicação futura?

O capítulo 4 de Daniel traz a interpretação do sonho de Nabucodonosor, não deixando qualquer possibilidade para uma outra interpretação secundária. Daniel revela sem meias palavras que o sonho diz respeito a Nabucodonosor e ao seu reinado, e os relatos subseqüentes mostram que o sonho teve cumprimento quase que imediato, naqueles mesmos dias de Nabucodonosor. Utopicamente, para apoiar a insana afirmação de que Jesus haveria voltado em glória para reinar no ano 1.914, as Testemunhas arbitrariamente afirmam que tal profecia teria também um cumprimento futuro. A partir deste argumento, surgem algumas questões subjacentes:

 

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Existe base para se afirmar categoricamente que o relato de Daniel 4 teria um segundo cumprimento?

Conforme o livro Raciocínios à Base das Escrituras, página 110, deveríamos considerar Daniel 4:3 e 4:17 como indicando um cumprimento futuro para o sonho profético da grande árvore. Abaixo estão os referidos versículos:

"Quão grandiosos são os seus sinais e quão poderosas são as suas maravilhas! Seu reino é um reino por tempo indefinido e seu domínio é para geração após geração" - Daniel 4:3 (TNM)

"A coisa é por decreto dos vigilantes e o pedido é [pela] declaração dos santos, para que os viventes saibam que o Altíssimo é Governante no reino da humanidade e que ele o dá a quem quiser, e estabelece nele até mesmo o mais humilde da humanidade." - Daniel 4:17 (TNM)

A explicação dada no livro Raciocínios é colocada a seguir:

*** rs 110 Datas ***
Leia Daniel 4:1-17. Os versículos 20-37 de Dan. 4 mostram que essa profecia teve cumprimento em Nabucodonosor. Mas ela tem também um cumprimento maior. Como sabemos isso? Os versículos 3 e 17 de Dan. 4 mostram que o sonho que Deus deu ao Rei Nabucodonosor tem que ver com o Reino de Deus e a promessa de Deus de dar tal reino "a quem [Ele] quiser . . . até mesmo [ao] mais humilde da humanidade". A inteira Bíblia indica que o propósito de Jeová é que o seu próprio Filho, Jesus Cristo, qual representante Seu, governe a humanidade. (Sal. 2:1-8; Dan. 7:13, 14; 1 Cor. 15:23-25; Rev. 11:15; 12:10) A descrição que a Bíblia faz de Jesus revela que ele era de fato "o mais humilde da humanidade". (Fil. 2:7, 8; Mat. 11:28-30) O sonho profético, portanto, aponta para o tempo em que Jeová daria o governo da humanidade a Seu próprio Filho.

A mesma página 110 do livro Raciocínios cita Revelação 11:15 e 12:10, relacionando-os com Daniel 4:3 (como mostrado no excerto acima). No entanto, não é possível de forma alguma argumentar que exista qualquer ligação entre os dois versículos e Daniel 4:3, pois: (1) ambos (Revelação e Daniel) falam de um governo eterno (nos citados versículos), mas em contextos completamente diferentes, e (2) Daniel cita a Jeová, ao passo que Revelação está falando de Jesus Cristo. Portanto, definitivamente não é possível associar os dois versículos, a menos que as Testemunhas passem a defender uma trindade – colocando Jeová e Jesus como sendo a mesma pessoa. E citações de que "o governo de Jeová é por tempo indefinido" aparecem na Bíblia às dúzias, sem que por isto indiquem que os relatos que contém tal sentença tenham necessariamente um cumprimento futuro.

Também o livro Raciocínios menciona Filipenses 2:7,8 e Mateus 11:28-30, relacionando-os com Daniel 4:17, por colocarem Jesus como o personagem "mais humilde da humanidade" (vide excerto acima). Mais uma vez, seria um raciocínio pouco lógico tentar relacionar Daniel 4 com estes outros dois versículos, por vários motivos. A interpretação do sonho, dada por Daniel, não dá sequer uma pequena brecha para que fosse tomada como tendo um cumprimento futuro; de fato, Daniel afirmou categoricamente que tal profecia se aplicava diretamente – e tão somente – a Nabucodonosor. Caso houvesse uma aplicação maior, mais importante, seria lógico ele colocar alguma referência a isto em sua interpretação – supondo-se que Jeová não use linguagem de códigos secretos para se comunicar com Seus servos. Ainda mais, Nabucodonosor foi cortado de seu reino justamente por sua atitude arrogante, por estar em uma posição extremamente elevada e se "inflar" como um balão. O contexto deixa claro que Daniel 4:17 fala a respeito de dar e tirar um governo em função do poder régio que seria tirado de Nabucodonosor, e cita a humildade justamente porque era esta a lição a ser aprendida por tal monarca, conforme ele mesmo deixou claro mais tarde:

"Agora, eu, Nabucodonosor, louvo, e enalteço, e glorifico o Rei dos céus, porque todas as suas obras são verdade e seus caminhos são justiça, e porque ele é capaz de humilhar os que andam em orgulho.[referindo-se a ele mesmo, Nabucodonosor]" - Daniel 4:37 (TNM)

Conforme citado, parece algo pouco razoável a tentativa de utilizar Daniel 4:3 e 4:17 para indicar um cumprimento futuro para o sonho de Nabucodonosor, tendo em vista o contexto e acontecimentos subseqüentes. Ainda mais, Daniel 4:17 cita o dar um governo, estabelecer um rei, utilizando o tempo presente, ao passo que o reino messiânico seria um evento futuro. Não se pode torcer estes versículos somente para que se obtenha apoio a uma interpretação pré-concebida de uma profecia que claramente já teve seu cumprimento no passado. Seria absurdo tentar provar com estes dois versículos de Daniel 4 que tal profecia teria um cumprimento futuro.

 

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Se Daniel 4 haveria de ter um cumprimento futuro, haveria de existir um paralelo entre aqueles acontecimentos e o cumprimento futuro. Mas, é possível estabelecer tal paralelo?

Para que tal profecia tenha aplicação futura, é necessário que os fatos da época de Nabucodonosor se relacionem com os eventos do cumprimento "profético" do ano de 1.914 e a entronização de Jesus Cristo qual rei no céu. Mas, sinceramente falando, seria possível uma comparação daqueles acontecimentos do passado com o reino messiânico?

1) O reino de Nabucodonosor era representado pela grande árvore, que por sua vez significava a majestosidade e poder do império sob o comando deste monarca, ou mesmo a glória de sua pessoa. Como se relacionaria isto com um cumprimento secundário? Segundo a forma de as Testemunhas de Jeová interpretarem Daniel 4, o "Reino de Jeová" foi cortado em 607 AC com o destronamento de Zedequias. Pergunto: foi o governo de Zedequias ou o próprio Zedequias considerado tão grande e majestoso, ao ponto de ser comparado àquela enorme árvore? Atingiu o governo de Jeová aqui na terra (através da nação de Israel) uma notoriedade tão grande, ao ponto de poder ser comparado ao de Nabucodonosor? Não! Sabemos que do ponto de vista político e militar, Israel sempre foi uma nação pequena, e jamais teve brilho ou destaque mundial. Jamais Zedequias ou o reino de Israel poderiam ser tipificados pela árvore gigante. A profecia é específica ao dizer que a árvore representava um rei. Que rei de Israel, em 607 AC ou durante toda a história da humanidade, teria se tornado tão brilhante e notório quanto Nabucodonosor? Ou em que sentido poderia ser isto aplicado ao governo de Jeová, representado por Israel?

2) Sabemos que o reino foi tirado de Nabucodonosor por este haver se tornado arrogante, conforme esclarecido em Daniel 4:37. Tornou-se Zedequias tão poderoso até que ficasse arrogante, talvez até mesmo dando "cobertura" e "proteção" a todas as criaturas da terra? Ou por acaso isto aconteceu com algum outro representante do reino de Jeová aqui na terra? Sim, o reino de Nabucodonosor foi cortado em virtude de a autoridade máxima ser extremamente orgulhosa. Seria a autoridade máxima do reino divino – o próprio Jeová – orgulhoso e arrogante em demasia, ao ponto de ver seu reino danificado aqui na terra?

3) Nabucodonosor recebeu um "coração de animal" e viveu na relva, como louco, por sete anos. Em que sentido é possível associar isto com os acontecimentos que se passaram desde 607 AC até 1.914 EC? O livro Raciocínios (pág. 110) aplica este período de vida "entre as feras" à época atual – com nações cujo brasão se vale do desenho de feras, como EUA, China, etc... No entanto, este período não pode se relacionar com o que acontece hoje, haveria de ter acontecido antes de 1.914 – o alegado tempo do cumprimento secundário de Daniel 4, antes da restauração do reino em 1.914. Como fazer isto? Qual foi o rei – ou representante do reino de Deus – que ficou como louco, vivendo com os animais e sendo humilhado – ainda que em sentido figurativo? Sabemos que a nação de Israel sempre careceu de um rei depois da destruição de Jerusalém, e depois da vinda de Jesus Cristo não era mais a nação que representava o reino de Deus na terra. Portanto, estar sendo a nação de Israel pisoteada ou dominada não pode servir de aplicação secundária, tendo em vista "ter coração de animal"; afinal, como haveria se ter dado isto? Algum governo maluco? Finalmente, depois da morte de Jesus, Israel deixou de representar qualquer governo de Deus na terra, e portanto Jeová deixou de ter um representante de seu governo neste planeta que pudesse estar vivendo com um "coração de animal".

4) O reino de Nabucodonosor foi re-estabelecido, e ele re-entronizado como rei. Segundo o que as Testemunhas ensinam, o cumprimento maior se deu em 1.914, quando Jesus haveria recebido o reino no céu. Pergunto: foi Jesus re-entronizado? Não, ele haveria simplesmente sido entronizado pela primeira vez. Mas Nabucodonosor havia sido re-entronizado e não entronizado pela primeira vez. Como poder-se-ia então comparar Jesus com Nabucodonosor? Também, Nabucodonosor aprendeu uma lição de humildade em função do acontecido; haveria Jesus aprendido tal lição de humildade? Necessitava ele disto? Reconhecer que era Jeová o todo-poderoso?

5) Depois do cumprimento da profecia em Nabucodonosor, veio um período de prosperidade para ele mesmo e seu reino. No cumprimento maior, seria de se esperar o mesmo tipo de acontecimento. Mas, sabemos que a situação neste século – também depois de 1.914 – não pode ser descrita como de "prosperidade divinamente provida", a exemplo dos períodos anteriores da história humana. Então mais uma vez não pode ser estabelecido um paralelo, visto que depois do retorno do rei representante de Jeová, se houvesse um paralelo, a situação haveria de melhorar sensivelmente; mas isto definitivamente não aconteceu.

6) Era Nabucodonosor um representante de Jeová ou seu governo? Não! Antes, ele era um governante pagão, opositor da forma de adoração adotada pelos israelitas. Como poderia então Nabucodonosor tipificar um representante máximo do governo de Deus, um governo justo que apóia a adoração pura?

7) No suposto cumprimento secundário de Daniel 4, o governo cortado tinha sede na terra. Logicamente, haveria de ser re-estabelecido na terra, local onde originalmente existia. Mas, segundo ensinado pelas Testemunhas, este governo foi re-estabelecido no céu. Seria este mais um ponto fora de paralelismo? Certamente!

Naturalmente havemos de considerar que os eventos ocorrem em épocas diferentes e em cenários diferentes, portanto não poderíamos esperar um paralelismo extremamente literal. No entanto, simplesmente não existe qualquer sinal ou sombra de paralelismo, quando analisamos as evidências com nossas mentes livres de idéias pré-concebidas.

Para encerrar o assunto, as literaturas da Torre de Vigia afirmam que os tempos dos gentios, os "tempos designados das nações", são este período que teve início em 607 AC (Raciocínios, pág. 111, parágrafo 1). Vejamos onde Cristo cita tal período de tempo:

"24 e cairão pelo fio da espada e serão levados cativos para todas as nações; e Jerusalém será pisada pelas nações, até se cumprirem os tempos designados das nações." - Lucas 21:24 (TNM)

Se notarmos atentamente tal versículo, jamais poderíamos afirmar que Jesus falava do período de tempo que teve início em 607 AC e continuou até 1.914 DC, pois ele fala a respeito dos "tempos designados das nações" no tempo futuro, ao passo que segundo ensinado pelas Testemunhas, este período já havia começado mais de 600 anos antes de Cristo proferir tais palavras. Adicionalmente, qual seria a base bíblica para alguém afirmar que o sonho de Nabucodonosor se relaciona com as palavras de Jesus em Lucas 21, uma vez que tal capítulo trata de eventos que ainda haveriam de ocorrer, não havendo brecha para que fosse aplicado a algum acontecimento passado?

Não restam dúvidas de que a interpretação insana feita pela Torre de Vigia, referente ao capítulo 4 de Daniel, carece tanto de apoio lógico quanto bíblico, sendo portanto o ensino do mítico ano de 1.914 como sendo o ano da "entronização de Cristo qual rei" uma mentira. Neste sentido, é de valor a declaração abaixo:

"A Encyclopædia Universalis está correta ao salientar a importância da verdade. A religião que ensina mentiras não pode ser verdadeira." (A Sentinela, 1º de Dezembro de 1.991, p. 7).