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Os relatórios de serviço de campo
Todos os grifos, negritos e itálicos em citações de fontes que não
sejam deste mesmo Site foram acrescentados pelo autor deste artigo.
Uma das características mais marcantes das Tesmunhas de Jeová
é o empenho que elas têm na obra de divulgação de seus ensinos. Quando uma pessoa é
vista com trajes formais, bolsa ou pasta na mão, sorriso no rosto, e ainda mais, se isto
ocorre no domingo de manhã, todos a identificam prontamente como sendo uma Testemunha de
Jeová. Afinal, diz o povo, domingo não é domingo se não tiver Sílvio Santos,
macarronada e Testemunha de Jeová na porta.
Embora esta faceta das Testemunhas de Jeová seja bem conhecida, existe
outro aspecto a respeito deste trabalho proselitista que poucos que não sejam ou tenham
sido de dentro desta denominação religiosa conhecem: o relatório que todo membro tem
que preencher a cada mês, descrevendo o que fez neste trabalho de procura de novos
adeptos e distribuição de literatura religiosa. Vejamos o que cada Testemunha tem que relatar
por escrito e com identificação pessoal todos os meses:
*** km 9/88 3 Relate com exatidão o serviço de campo ***
3 Deve-se relatar à congregação apenas horas inteiras. Uma hora incompleta
poderá ser guardada pelo publicador e incluída no seu relatório do mês seguinte. A bem
da exatidão é melhor anotar o tempo trabalhado, as publicações colocadas, e o
número de revisitas feitas cada vez que sair ao serviço de campo. Daí, por
simplesmente somarmos esses dados no fim do mês, não teremos de fazer um cálculo
aproximado do que foi realizado. A folha de Relatório de Serviço de Campo fornecida pela
congregação facilita registrar esses dados.
4 Não se esqueça de que deverá contar uma revisita cada vez que dirige um estudo
bíblico. No fim do mês, deve-se preencher e entregar, junto com o Relatório de
Serviço de Campo, um Relatório de Estudo para cada estudo bíblico dirigido.
Após preencher por completo e com exatidão cada folha de Relatório de Estudo, deve-se
anotar o total de estudos bíblicos diferentes dirigidos durante o mês no quadrículo
apropriado, situado no canto inferior direito do Relatório de Serviço de Campo.
5 Parece apropriado incluir o lembrete de que a contagem do tempo de serviço de campo
inicia quando você começa a dar testemunho e termina quando você conclui a última
visita em cada período de testemunho. Assim, o tempo tirado para lanchar ou tomar uma
refeição durante uma interrupção do serviço de campo não deve ser contado como
atividade de serviço de campo. Os que proferem discursos públicos poderão contar o
tempo real gasto em proferi-los.
Agora, veja abaixo o formulário onde são relatadas as atividades
acima descritas, preenchido com informações fictícias:
Caso você estude com as Testemunhas de Jeová, veja aqui o
formulário que é preenchido a cada mês com informações a respeito de seu
estudo, aqui mais uma vez com informações fictícias:
Que argumento utiliza a Torre de Vigia para exigir de seus
adeptos tal relatório tão detalhado, e ter conhecimento sobre o que todo membro
faz no trabalho chamado de pregação, promovido por esta denominação religiosa? Vejamos
algumas citações de publicações das Testemunhas de Jeová, acompanhadas de um
raciocínio complementar:
*** km 4/83 2 Entregou o relatório de suas atividades? ***
"Mas é tão importante assim entregar relatórios?", talvez pergunte. Sim,
é muito importante. Em primeiro lugar temos o exemplo da congregação cristã no
primeiro século. É evidente que se faziam relatórios das atividades de pregação e do
progresso alcançado. Verifique os relatos em Atos 2:41, 42 e 8:14.
*** w81 1/4 24 "Dar fruto em toda boa obra" ***
Quanto a isso, têm bons precedentes bíblicos. Por exemplo, em Atos 2:41 lemos que, em
resultado do discurso emocionante do apóstolo Pedro, bem como da pregação de outros
discípulos, "naquele dia acrescentaram-se cerca de três mil almas". Daí,
pouco tempo depois, a zelosa pregação adicional resultou em o número dos discípulos
chegar a "cerca de cinco mil". (Atos 4:4) E o relato bíblico diz sobre quando
novos conversos cristãos foram batizados em Éfeso: "Ao todo havia cerca de doze
homens." - Atos 19:2-7.
Não lhe parece este um argumento realmente convincente? Afinal,
realmente diversos relatos bíblicos demonstram que os servos de Deus no passado faziam
alguma espécie de contagem ou controle numérico. Mas, como e com que
profundidade isto acontecia? Vejamos isto lendo os textos sugeridos nas literaturas
mencionadas acima, utilizando a Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas (editada
pela Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados pessoa jurídica que
representa oficialmente as Testemunhas de Jeová):
Atos dos Apóstolos 2:41-42
41 Portanto, os que abraçaram de coração a sua palavra foram batizados, e
naquele dia acrescentaram-se cerca de três mil almas. 42 E eles continuavam
a devotar-se ao ensino dos apóstolos e a partilhar [uns com os outros], a tomar
refeições e a orações.
*** Rbi8 Atos dos Apóstolos 4:4 ***
4 No entanto, muitos dos que tinham escutado o discurso creram, e o número dos
homens chegou a cerca de cinco mil.
Atos dos Apóstolos 8:14
14 Quando os apóstolos em Jerusalém ouviram que Samaria havia aceito a
palavra de Deus, mandaram-lhes Pedro e João;
*** Rbi8 Atos dos Apóstolos 19:2-7 ***
2 e ele lhes disse: "Recebestes espírito santo, quando vos tornastes
crentes?" Disseram-lhe: "Ora, nunca ouvimos [falar] que há espírito
santo." 3 E ele disse: "Então, em que fostes batizados?" Disseram:
"No batismo de João." 4 Paulo disse: "João batizava com o batismo
[em símbolo] de arrependimento, dizendo ao povo que cressem naquele que vinha após ele,
isto é, em Jesus." 5 Ouvindo isso, foram batizados no nome do Senhor Jesus. 6
E, quando Paulo pôs as suas mãos sobre eles, veio sobre eles o espírito santo e
começaram a falar em línguas e a profetizar. 7 Ao todo havia cerca de
doze homens.
Puderam notar alguns detalhes interessantes nos textos citados acima,
conforme utilizado pelas Testemunhas de Jeová para justificar sua exigência com respeito
a relatórios detalhados da obra pessoal de proselitismo? Raciocinemos juntos sobre alguns
pontos comuns nos relatos bíblicos citados acima:
- Os textos mencionam apenas o número de pessoas que se convertiam ao cristianismo ou
estavam presentes em determinada circunstância nada é citado a nível de
atividade pessoal;
- Não se fala em números absolutos; antes utiliza-se o termo "cerca", até
mesmo para um número tão baixo como o mencionado em Atos 19:7 "cerca
de doze homens" o que evidencia que não havia sido feito um relatório
preciso do que acontecera;
- Em nenhum relato bíblico alude-se à atividade pessoal de algum discípulo de Cristo ou
qualquer outro personagem, em termos numéricos. Jamais a Bíblia menciona um único caso
em que se deixe a possibilidade para exigir que alguém relate quanto tempo gastou em
evangelizar, dirigir estudos bíblicos; muito menos era exigido dos apóstolos e
discípulos que declarassem quantos exemplares da Bíblia haviam "passado"
durante o decorrer do mês;
Agora, tente responder às seguintes perguntas:
- Quantas horas gastava o apóstolo Paulo na obra de evangelização a cada mês?
Conseguiria ao menos fazer uma estimativa? Dar um "chute"?
- Quantos estudos bíblicos dirigiu Pedro?
- Quantas Bíblias/livros/revistas "passava" Timóteo em média a cada mês?
Não, não há a mínima possibilidade de se responder a sequer uma
destas perguntas. Isto porque a Bíblia jamais menciona um requisito de *tempo* a ser
gasto na obra de evangelizar, nem mesmo sugere que seria necessário fazer um
relatório tão detalhado das atividades de pregação de cada pessoa. Antes, todos os
relatos que envolvem números ou estatísticas na Bíblia são absolutamente genéricos e
dizem respeito a número de pessoas, bens ou equipamentos militares, e nunca é mencionado
algum detalhe estatístico do trabalho de algum servo de Deus.
Mais que isso, tais relatórios servem de base para que os anciãos
analisem a "espiritualidade" de cada pessoa na congregação (comunidade
religiosa local). Se o relatório tem poucas horas, poucas revistas/livros distribuídos,
o membro é tido e tratado como uma pessoa espiritualmente doente. A ai
daquele que deliberadamente ousar não relatar sua atividade, sendo que tenha trabalhado
nesta obra proselitista - este passa a ser encarado como rebelde, é "tomado
nota" de tal indivíduo e ele passa a ser evitado por todos os demais membros da
comunidade religiosa das Testemunhas de Jeová como sendo nocivo à espiritualidade
alheia.
Portanto, a exigência que as Testemunhas de Jeová fazem de que
se relate a cada mês detalhes do trabalho proselitista que cada indivíduo efetuou
durante determinado mês não tem nenhuma base ou precedente bíblico. É somente
mais um mandamento que reflete a vontade de homens, que deixa a impressão de existir para
fins de controle e intimidação daqueles que se associam com tal organização.
Antes de finalizar, mais um detalhe curioso:
Anciãos:
Para que um varão Testemunha de Jeová se torne ancião (pastor),
além de muitos requisitos bíblicos é exigido que ele tenha uma ativa participação na
tal obra de pregação, a ponto de ser encarado pelos outros membros da igreja como
exemplo neste quesito. Até há bem pouco tempo, era exigido que o "candidato" a
ancião gastasse, no mínimo a cada mês, o mesmo tanto de horas da média nacional (em
torno de 10 no Brasil). Estes dados estatísticos acerca das atividades pessoais do
"candidato" são obitdos nos tais relatórios descritos anteriomente.
Agora eu pergunto: de onde saiu esta regra? Afinal, vejam abaixo os
requisitos bíblicos para que um varão seja ancião:
1 Timóteo 3:1-7
2 O superintendente, portanto, deve ser irrepreensível, marido de uma só
esposa, moderado nos hábitos, ajuizado, ordeiro, hospitaleiro, qualificado para ensinar,
3 não brigão bêbedo, não espancador, mas razoável, não beligerante, não amante
do dinheiro, 4 homem que presida de maneira excelente à sua própria família,
tendo os filhos em sujeição com toda a seriedade; 5 (deveras, se um homem
não souber presidir à sua própria família, como tomará conta da congregação de
Deus?) 6 não homem recém-convertido, para que não venha a
enfunar-se [de orgulho] e a cair no julgamento aplicado ao Diabo. 7 Além disso,
deve ter também testemunho excelente de pessoas de fora, a fim de que não caia em
vitupério e num laço do Diabo.
Tito 1:5-9
5 Por esta razão te deixei em Creta, para que corrigisses as coisas defeituosas e fizesses
designações de anciãos numa cidade após outra, conforme te dei ordens, 6 se
houver um homem livre de acusação, marido de uma só esposa, tendo filhos
crentes, não acusados de devassidão nem indisciplinados. 7 Porque o
superintendente tem de estar livre de acusação como mordomo de Deus, não obstinado,
não irascível, não brigão bêbedo, não espancador, não ávido de ganho desonesto,
8 mas hospitaleiro, amante da bondade, ajuizado, justo, leal, dominando a si mesmo,
9 apegando-se firmemente à palavra fiel com respeito à sua [arte de] ensino,
para que possa tanto exortar pelo ensino que é salutar como repreender os que
contradizem.
Estes relatos descrevem as características que se espera que um
ancião tenha. Agora, mais uma vez, eu todo curioso pergunto: onde é que se
acha acima algo que diga respeito à atividade missionária ou proselitista de um varão,
que torne tal característica um requisito para que este seja ancião ou pastor? Este
padrão de análise não está contido nos parâmetros dados pelo apóstolo Paulo, no
que tange a designação de anciãos! Por que não?
Em Efésios 4, o apóstolo Paulo falava a respeito das "dádivas
em homens", se referindo aos anciãos. Quanto a estes, ele destacou que cada um teria
uma característica diferente, conforme observamos abaixo:
Efésios 4:11-12
11 E ele deu alguns como apóstolos, alguns como profetas, alguns como
evangelizadores, alguns como pastores e instrutores, 12 visando o reajustamento
dos santos para a obra ministerial, para a edificação do corpo do Cristo,
Fica claro que cada ancião teria uma certa característica, sendo que alguns
seriam dados como evangelizadores não se fala aqui que este
"evangelizar" - na forma como ensinada pelas Testemunhas - seria o denominador
comum a todos eles. Portanto, fica claro que não era esperado que todos os anciãos
fossem empenhados evangelizadores por excelência. Cada qual teria sua característica.
Alguns poderiam então argumentar: "mas o versículo 12 fala
que o objetivo era a obra ministerial portanto, envolve pregação". Realmente,
esta é uma verdade. Mas isto definitivamente não acontecia no primeiro século nos
moldes impostos pela Torre de Vigia nos dias de hoje. Vejamos as diferenças da
obra ministerial do primeiro século e da obra ministerial das Testemunhas de Jeová:
- Os anciãos/futuros anciãos não eram avaliados em base de um relatório mensal de
horas, mesmo porque isto não existia;
- Definivamente a obra ministerial não era feita como pregado pelas Testemunhas de Jeová
de casa em casa, com relatórios detalhados. Saberia mencionar apenas um personagem
bíblico do primeiro século que foi convertido no serviço de casa em casa?
- A pregação de casa em casa, da forma mecânica, rotineira e incomodante como pregado
pela Torre de Vigia não tem base bíblica. E mais, a tradução de Atos 20:20 é
desonesta ao traduzir kai kat oí·kous (lit.: "segundo as
casas") como "de casa em casa". A Tradução do Novo Mundo com referências
admite isto numa nota de rodapé. Se isto é lá admitido, por que então está colocado:
"de casa em casa", sendo que a Sociedade sabe que esta não é a
tradução mais correta? Visite este link e veja uma elucidadora matéria sobre este tema:
http://www.geocities.com/observa3/busca07.htm
Portanto, o critério de avaliação dos valores apresentados
mensalmente no relatório feito pelos varões Testemunhas de Jeová não é um requisito
bíblico.
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