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Livro Profecia de Daniel, páginas 293-303 Todos os grifos, negritos e itálicos em citações de fontes que não sejam deste mesmo Site foram acrescentados pelo autor deste artigo. Aqueles que presenciaram o lançamento do livro "Preste Atenção à Profecia de Daniel" (publicado em português pela Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados) esperavam um livro repleto de explicações profundas e acima de tudo, convincentes, das complexas profecias contidas no livro bíblico de Daniel. Mas uma análise detalhada deste livro agora conhecido entre as Testemunhas de Jeová como "Profecia de Daniel" mostra que tal tarefa não é tão simples e óbvia quanto parece, além de dar margem para muitas explicações especulativas. Eu não poderia me propor a escrever uma análise de todo o livro, pois isto me levaria a escrever um volume muito grande, voltado para um público muito restrito. Mas tomei um pequeno trecho que representa bem todo o espírito do estilo de escrita e redação do livro "Preste Atenção à Profecia de Daniel". Seguem-se portanto alguns comentários:
Breve Análise das páginas 293-303 1) Na página 293, parágrafo 13, é citado:
Este texto torna claro que um número considerável de pessoas, no tempo apropriado viria a ler e a entender o conteúdo do referido relato profético. Mas veja como é explicado este versículo na página 294, parágrafo 14:
Uma Testemunha de Jeová ativa sabe perfeitamente que são considerados aptos para entender a Bíblia, não a totalidade dos ungidos na terra, mas apenas aqueles que fazem parte do Corpo Governante - segundo sua própria explicação. De forma que, mesmo existindo cerca de 8.000 pessoas na terra que alegam serem ungidas, elas não podem tentar entender a Bíblia em base pessoal, nem tampouco ajudar o Corpo Governante a chegar a uma nova conclusão sobre determinado assunto. Assim, este entendimento fica restrito a 12-14 pessoas, segundo a explicação acima mencionada. Poder-se-ia considerar este número como sendo "muitos", em acordo com o acima mencionado versículo do livro de Daniel? De forma alguma! Não é difícil notar a inconsistência desta explicação dada no livro Profecia de Daniel; de fato, apenas por se utilizar um pouco do raciocínio que temos observamos que a explicação dada não reflete a idéia de Daniel, quando da escrita de seu livro.
2) Outro ponto interessante: na mesma página 294, parágrafo 15, refere-se a outro versículo interessante:
Notem o comentário tecido em relação a esta passagem ainda no mesmo parágrafo 15 da página 294:
Obviamente esta explicação foi desta forma colocada numa tentativa de explicar as profecias do fim do mundo para 1914, 1925 e 1975, para não se citar outras [clique aqui e confira estes e outras curiosidades]. Mas dá Daniel 12:4,6 margem para que esta comparação seja válida? Veja a resposta no versículo seguinte, onde é respondida a questão levantada no versículo 6, quanto aos tempos de cumprimento da profecia:
Quanto à pergunta que havia sido levantada, Daniel fornece uma resposta direta e precisa. Não se dá margem para que se pense que o anjo indagador tivesse um ponto de vista errôneo quanto ao tempo de cumprimento da profecia, nem tampouco foi a resposta obscura ou ambígua. Nem tentou o anjo da profecia de Daniel supor ou profetizar datas, errando uma, duas, três vezes. Assim, escusar erros proféticos cometidos pela Torre de Vigia no decorrer de sua existência, apoiando-se nas sérias palavras de Daniel, não é possível. 3) No que tange a interpretação dos tempos, na página 295, parágrafo 17, é afirmado o seguinte: "Os eruditos em geral entendem que isso significa três tempos e meio". É uma colocação curiosa a Torre de Vigia se apoiar na opinião de eruditos (embora não citados quais), uma vez que ela rejeita, e até mesmo repudia seus conceitos, métodos e traduções bíblicas, especialmente se os mesmos vão contra os ensinamentos das Testemunhas de Jeová. A exemplo disto, os eruditos em peso afirmam que a tradução correta de João 1:1 teria a expressão "e a palavra era Deus". Mas a Sociedade ignora a opinião dos mesmos eruditos que ela utiliza para apoiar os argumentos de seu interesse e verte tal versículo como: "e a palavra era [um] deus". Não é interessante que utilizem os eruditos como apoio a alguns de seus ensinos, quando lhes é conveniente, e despreze a opinião dos mesmos quando estas vão de encontro aos seus conceitos? 4) Na página 296, parágrafo 18 é feita a seguinte explicação de Daniel 12:7 (parte final do versículo):
Note que Daniel 12:7 diz que o final dos 1.260 marcaria o "fim ao espatifamento do poder do povo santo", ou seja, o fim do período de sofrimento do povo santo; "fim ao espatifamento" significa fim do período em que estiveram "espatifados", destruídos ou coisa parecida. E a Torre de Viga afirma que o período de cumprimento da profecia dos 1.260 dias teve início em dezembro de 1.914 e terminou em junho de 1.918 (confira quadro na página 301 do livro "Profecia de Daniel"). E por acaso a "perseguição" contra os líderes dos Estudantes da Bíblia terminou em 1.918? Pelo contrário, os "ataques" sofridos pelos dirigentes dos Estudantes da Bíblia atingiram seu apogeu em 1.918 e continuaram ainda por uns anos mais. Me pergunto como poderiam bons redatores, iluminados pelo "espírito santo", passar por alto um erro tão evidente. Aliás, me pergunto COMO conseguiram chegar à interpretação impressa neste livro. O versículo é claríssimo e a redação não permite interpretações ambíguas. Mas infelizmente foi passada por alto esta informação, e mais que isso, distorcida uma séria profecia, simulando-se que a mesma esteja a favor de sua organização humana. Mais um detalhe na forma como a Torre de Vigia interpreta o cumprimento desta profecia. Se voltamos ao quadro na página 301, notamos que afirmam que os 1.260 dias são literais. Fazendo desta forma, eles praticamente dizem que Daniel ou era maluco ou queria deixar seus leitores malucos. Por que? Note os seguintes pontos:
A falta de lógica nestas explicações chega a impressionar. O profeta Daniel não forneceu nenhum dado que pudesse determinar se os dias das suas profecias seriam literais ou equivalentes a um ano. Portanto, aplicar a regra de 1 dia por 1 ano já é especulação sem base de apoio. Afinal, todos sabemos que este princípio foi aplicado com relação ao povo de Israel, aplicando-se à época em que estiveram vagando pelo ermo. Ademais, se em cada profecia "dia" tivesse uma duração diferente, 24 horas ou 1 ano dependendo da visão ou sonho, ele certamente teria deixado claro isto em seus escritos. Daniel e a própria origem das visões, Deus, certamente esclareceriam que nesta profecia "tempo" tem tal duração e naquela profecia tem outra tal duração. Se não o fizeram, o mínimo que se pode deduzir é que "dia" teria a mesma duração em todos os seus escritos e profecias. Assim, se interpretássemos 1 dia como 1 ano em determinada profecia, a mesma interpretação teria que ser feita em todas as outras (1.260, 2.300, 1.290 e 1.335 e a interpretação apresentada perderia sentido!). O mesmo caso vale para a situação de 1 dia ser literal. De qualquer forma, este raciocínio mostra que os argumentos apresentados neste livro são fruto de uma imaginação muito fértil, que tenta de maneira pouco convencional convencer seus leitores de que se está apresentando a verdade. |